sábado, 16 de maio de 2009

Minha carteira, a tecnologia e as boas almas

(artigo publicado originalmente no Jornal Impacto em 16/05/09 - autor: Carlos Orpham)

Domingo à noite eu fui ao banco pagar uma conta que venceria na segunda-feira, para ganhar tempo, pois imaginei que no dia seguinte a agência estaria lotada. Paguei a conta, verifiquei o saldo e tirei um extrato. Não sei por que cargas d’água esqueci a carteira numa das máquinas do auto-atendimento. Como só senti a falta da carteira ao chegar em casa, corri de volta ao local do esquecimento e verifiquei que tinha se dado o pior: a carteira não estava mais lá.

Dentro dela, me lembrava, não havia dinheiro nem talão de cheques, porém tinha cartão de crédito, de débito, do plano de saúde, do clube e todos os meus documentos pessoais, inclusive a carteira de habilitação. Pronto, vieram as preocupações e a certeza de uma noite mal dormida. Fui ao telefone e liguei no tele-atendimento para bloquear os cartões. Consegui. Fiquei imaginando, depois, como seria bom se houvesse um auto-atendimento também para pedir a segunda via de meus documentos.

Mais relaxado, porém arrasado por antever o corre-corre do dia seguinte para tomar todas as providências, preparava-me para deitar, quando alguém me chama ao portão. Um casal, sorrindo: “perdeu a carteira, Orpham”, disse-me o rapaz me estendendo o objeto de minhas preocupações. Eles vieram até a minha casa de circular para me entregar a carteira. Boas almas! Deus os abençoe!

Isso tudo me fez refletir um pouco mais do que o de costume. Um simples ato de solidariedade, amizade, respeito, é muito mais importante do que todos os avanços tecnológicos. A máquina do auto-atendimento bancário e o tele-atendimento para bloquear os cartões me ajudaram naquela noite. Porém, a generosidade daqueles dois, além de me ajudar, me dão a certeza de que o homem tem futuro e a sociedade tem jeito.

No sindicato, trabalhamos com uma concepção de Sindicalismo Cidadão, onde olhamos para o trabalhador como um todo, suas relações no trabalho, na família e na sociedade. O entendemos como alguém que tem necessidades extra mundo laboral: de saúde, educação, cultura, lazer, etc.. Trabalhamos com a idéia de que o ser humano deve estar em primeiro lugar, por isso não ficamos apenas na representação sindical perante o patrão negociando acordos que garantam direitos no ambiente de trabalho. Obviamente, isso é importante, é a função precípua do sindicato, porém não é só. As necessidades dos trabalhadores são muito maiores.
Somos contra a tese da economia de mercado, que coloca o dinheiro acima de tudo. Entendemos, ao contrário, que o ser humano deve estar no centro de todas as ações e preocupações, do sindicato, da política e da sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário