segunda-feira, 18 de maio de 2009

Crise branca de olhos azuis

(artigo publicado originalmente no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Causou alguma polêmica a afirmação do Presidente Lula de que a crise é branca e de olhos azuis. Parece-me ter sido essa mesmo a intenção. “Não conheço nenhum banqueiro negro, nem índio”, disse o Presidente. Eu acrescentaria: nem pobre!

É evidente que Lula usou uma figura de linguagem para exprimir sua visão de que a crise foi provocada por uma elite presunçosa e especuladora dos países ricos e que os pobres, portanto, não poderiam pagar essa conta.

A crise da especulação e dos monopólios estourou no centro do sistema capitalista, os Estados Unidos da América, e atinge as economias menos desenvolvidas. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, estão sendo torrados trilhões de dólares para cobrir o rombo causado pela irresponsabilidade e egoísmo das grandes corporações, mas o desemprego continua se alastrando, podendo atingir mais 50 milhões de pessoas em todo o mundo.

No Brasil, a ação nefasta e oportunista das multinacionais do setor automotivo e de empresas como a Vale do Rio Doce, CSN e Embraer, levaram à demissão de mais de 800 mil trabalhadores nos últimos cinco meses. Os banqueiros, que dizem que o spred bancário é alto por causa do compulsório, diante de sua diminuição pelo Governo, ao invés de destinarem esses recursos ao crédito, compram mais títulos públicos, demonstrando mais uma vez sua sede de ganho fácil e falta de compromisso em combater à crise.

O povo, decididamente, não é o culpado pela crise. Ela, realmente, tem o DNA branco e de olhos azuis dos especuladores bilionários e opulentos que transformaram o planeta em um imenso cassino financeiro. Agora, diante do fracasso desse modelo excludente, querem que os trabalhadores, pobres, negros e índios, paguem a conta com demissões, redução de salários e direitos e injeção de recursos do BNDES nas empresas que estão demitindo e tentando criminalizar os movimentos sociais.

Além de prejudicar os mais pobres, a tal precarização, que retira direitos e diminui salários, e o desemprego enfraquecem o mercado interno, deixando o país mais vulnerável à crise.
Por isso, é preciso que o Banco Central adote uma política de diminuição mais rápida da taxa Selic que leve a uma queda drástica das taxas de juros praticadas pelos bancos. Necessário também é reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários, pois isso representaria um aumento significativo na oferta de empregos.

Urgente também é acelerar a reforma agrária, ampliar as políticas públicas em habitação, saneamento, educação e saúde, e medidas concretas dos governos Municipais, Estaduais e Federal para garantir o emprego e a renda dos trabalhadores. Aliás, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, às vezes até de olhos azuis, mas, certamente, pobres.

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