quarta-feira, 22 de junho de 2011

Palestra Espírita

Na terça-feira passada, dia 21/06/, fiz uma breve palestra no Centro Espírita "Do Calvário ao Céu". Gostei muito desse trabalho. Foi muito gratificante para mim poder contribuir com uma reunião onde pessoas vão em busca de algum alento, de alguma palavra de conforto para aliviar suas dores. Abaixo reproduzo parte dela.

Boa noite, companheiros e companheiras de jornada evolutiva e de ideal espírita.

Para mim é uma grande alegria estar aqui nesta noite trazendo algumas reflexões sobre nossa vida à luz da doutrina espírita. A esta casa e a todos vocês meus agradecimentos pela oportunidade de estar aqui nesta noite.

Aqui em nossa Casa temos vários cursos e grupos de estudo. Temos um curso de mediunidade as quintas-freiras, temos o ESDE – Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, também às quintas-feiras, temos o estudo do Livro dos Espíritos e outros. Um dia desses, nós participávamos de um desses cursos e um companheiro nosso, trabalhador da casa, nos contou uma história... uma história real, que aconteceu com pessoas de seu relacionamento, seus parentes. Aconteceu quando esse nosso companheiro era criança, com uma tia sua.

É uma história interessante e apropriada para se contar aqui, por isso eu resolvi contar para vocês. Essa senhora era casada e tinha três filhos pequenos, vamos chamá-la de Maria. Ela, o Marido e os filhos moravam num pequeno sítio, numa casa pequena e muito simples. A certa altura, quando seus filhos ainda eram pequenos, o esposo, vamos chamá-lo de João, os abandonou. Mudou-se para a cidade e lá constituíra outra família, com outra mulher com quem teve, segundo nos contou esse nosso companheiro do curso, onze filhos. João estava com uma situação financeira muito boa, porém nunca ajudou Maria e seus três filhos. Simplesmente os abandonara. Logicamente Dona Maria passara grandes dificuldades, precisando, muitas vezes, do apoio e da ajuda financeira da família. O interessante é que ela sempre que se referia ao João dizia “o meu marido”, “o meu marido”. E todos perguntavam, mas como Maria “seu marido”? Ele te abandonou, você e as crianças! E você continua chamando-o de “seu marido”? Mas ela continuava a chamá-lo assim e não tinha, aparentemente, nenhum rancor por ele.

O tempo passou, eles envelheceram, o dinheiro acabou e João ficou doente. Foi diagnosticado o câncer e João precisou ser transferido para a Capital para fazer o tratamento. Sua atual esposa não quis viajar com ele. Simplesmente o colocou num ônibus e o despachou para São Paulo. João foi recebido na casa de um dos filhos do primeiro casamento com Maria, que já era casado e morava na Capital. Ao saber que João estava doente e hospedado, sozinho, na casa de seu filho, Maria não teve dúvidas, mudou-se para lá também e cuidou dele durante todos os dias. Dava-lhe os banhos, os remédios, a alimentação, carinho, amor fraterno. Assim foi até que João desencarnou. Com Maria sempre ao seu lado.

Passaram-se mais alguns anos e Maria também desencarnou. Lá do plano espiritual ela fez de tudo para comunicar-se com a família. Certa vez, esse companheiro que nos contou a história já era casado e ele nos conta que Maria deu uma comunicação através de sua esposa e ela disse assim: “O seu tio João está precisando muito de orações para poder reequilibrar-se psiquicamente, peça a todos os nossos familiares que orem por ele, por favor”.

Como será que nós nos comportaríamos no lugar de Maria? Será que teríamos o mesmo comportamento a mesma compaixão? Provavelmente alguém diria: bem feito, aqui se faz , aqui se paga! Muito provavelmente outros até ficariam bravos com o filho por ter recebido o pai em casa para se tratar. Dizendo que ele havia desprezado a família a vida toda e agora ninguém deveria ajudá-lo. Mas não foi isso que fez Maria, aliás, nem o filho, que o recebeu em sua casa e também o amparou. Maria fez, então, exatamente o contrário. Cuidou-lhe com amor e carinho.

Essa história fala dessa relação de amor fraterno de uma mulher para um homem, mas é claro que deve ser assim também de um homem para uma mulher. Nós homens somos muito machistas e as vezes achamos que só as mulheres devem ser carinhosas e abnegadas. Não é assim, não. Nós, homens temos que agir assim também. Nós sabemos que o espírito não tem sexo, não tem gênero. Não existem espírito masculino e espírito feminino. Espírito é espírito. Mas as mulheres realmente parecem ter progredido mais na esfera dos sentimentos em relação a nós homens.

Este sentimento, então, de amor fraterno, de abnegação, de carinho deve haver também ma relação entre mãe e filho, de filho para mãe ou pai, de amigo para amigo, enfim todos nós devemos ser caridosos para com o nosso próximo.

Aqui vale a pena lembrar que caridade, conforme a entendia Jesus e nos orienta a nossa querida doutrina espírita, é: benevolência para com todos – indulgência (tolerância, compreensão) para com as imperfeições alheias – perdão das ofensas. Então é assim que devemos proceder. Caridade não é pura e simplesmente dar uma esmola, uma ajuda material a alguém que está necessitado. É também, dependendo do sentimento que está envolvido nessa doação. Não pode ser uma doação apenas para nos livrar do problema. Para ser caridade é preciso ser benevolente e isso envolve sentimento, amor fraterno.

Nós sabemos que não é fácil agir como Maria, mas precisamos nos esforçar nesse sentido. Tanto não é fácil que Jesus precisou vir pessoalmente, encarnado em missão, para nos dizer que sermos caridosos é importante, é fundamental. Tanto difícil como importante, por que se não fosse também importante, Jesus não teria também vindo pessoalmente nos dizer essas coisas. Não é?

Além do Chico Xavier, tem outro Chico que eu gosto muito. Esse outro não é trabalhador da seara religiosa, é da cultura, da música e da poesia. Trata-se de Chico Buarque de Holanda. Ele tem um poema que diz mais ou menos assim:

Solidão (Francisco Buarque de Holanda)

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear...

Isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...

Isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos...

Isto é equilíbrio.

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida...

Isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...

Isto é circunstância.

Solidão é muito mais do que isto.

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

O que será que é perder-se de si mesmo? Quando li esse poema parei para fazer essa reflexão. O que é afinal perder-se de si mesmo?

Perder-se de si mesmo é quando deixamos a nossa essência de lado. É quando deixamos de nos comportar como seres humanos. Por que Deus nos criou para sermos felizes e praticarmos o bem. Então, nos perdemos de nós mesmos é quando somos egoístas, orgulhosos, vaidosos. Nos perdemos de nos mesmos quando não praticamos a caridade na sua essência: benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.

Maria, então, sentiu solidão em todos esses anos de rejeição? Nos parece que não. Provavelmente ela tenha sentido carência, pois não tinha o companheiro do lado para conversar, para namorar... mas certamente nunca se sentiu só, por que continuou sentindo e praticando o amor fraterno.

Provavelmente ela tenha sentido saudade, pois pressentia que o companheiro jamais voltaria, mas solidão não. Provavelmente ela tenha se desequilibrado em alguns momentos, provavelmente tenha sentido um vazio de gente ao seu lado, mas solidão certamente ela não experimentou, porque nunca perdeu a sua essência, nunca perdeu-se de si mesmo.

O próprio Jesus nos fala, pelo menos os evangelistas assim nos deixaram em suas escrituras:

"Reconcilia-te com seu inimigo enquanto ele caminha ao seu lado, por que depois quando estiverem separados será mais difícil. Pague, resgate suas dívidas, por que senão virá o fiscal e depois virá o juiz e você será atirado no cárcere e de lá não sairá até que tenha pago o último ceitil, o último centavo”. Jesus está nos dizendo aí da necessidade que temos que perdoar de resgatar nossas dívidas, desta e de vidas passadas, e que façamos agora que estamos juntos encarnados, aqui no plano físico, talvez até na mesma família, por que depois quando estivermos separados pela morte do corpo, um encarnado, outro no plano espiritual e vice-versa será mais difícil. Mas a lei é implacável e certamente o faremos através das reencarnações sucessivas. Façamos, então, agora o que tem que ser feito, praticarmos o amor fraterno em relação a todos os nossos companheiros e companheiras de jornada na Terra.

Que Deus nos abençoe... Que possamos conquistar a paz e a serenidade para enfrentarmos os desafios da vida. Que assim seja!