domingo, 12 de setembro de 2010

Factóides não interferem mais em eleição: a ética agradece

(Artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Essa eleição parece que vai marcar definitivamente a conquista da autonomia política do povo brasileiro. Que bom! Alguém disse há pouco tempo atrás que nós estávamos nos livrando dos tais “formadores de opinião” e entrando numa fase em que o povo não precisaria mais de intérpretes, pois já sabia fazer sua própria leitura da realidade.

Em 1989 o que impediu a vitória de Lula foi o tal seqüestro do então presidente do Grupo Pão de Açúcar. Um jornal de circulação no norte do país foi mais audacioso do que os daqui do sul/sudeste e estampou a seguinte manchete: “PT seqüestra Abílio Diniz”. Alguns dias depois os seqüestradores foram capturados e transportados em um ônibus em cujos vidros foram colados adesivos do PT e da campanha de Lula. Em um dos criminosos foi colocada uma camiseta também do PT. E é claro, a TV “formadora de opinião” mostrou tudo, tim-tim por tim-tim.

Depois vieram as histórias dos tais dossiês, suas “compras” com dinheiro vivo mostrado as mancheias pelas TVs e Jornais, todos “formadores de opinião”. Agora os factóides produzidos têm um nome mais pomposo, “quebra de sigilo fiscal”, já que os dos dossiês já estão desbotados.

A eficácia dessa política rasteira parece, de fato, ter chegado ao fim. Quando eu começava a escrever esse texto, no feriado, dia 7, dava na internet, que aumentou ainda mais a diferença entre Dilma Roussef, que foi para 56 pontos, e José Serra, que foi para 21, no sétimo dia do tracking do Vox Populi/Band/iG. Isso acontece no auge da campanha contra Dilma, o Governo Lula e o PT, desencadeada pelo PSDB e Serra com base no noticiário da mídia “formadora de opinião” sobre a violação de sigilo fiscal de tucanos. Pela primeira vez a candidata do PT cresceu acima da margem de erro, que é de 2,2%. Também Serra caiu acima da margem de erro.

Ela abriu uma diferença de 33 pontos, a maior já registrada pelas pesquisas no primeiro turno de uma campanha eleitoral desde que o Brasil voltou a votar para presidente da República, em 1989.

Aconteceu o contrário do esperado pelos colunistas da mídia que recentemente se auto impôs a sublime missão de fazer oposição ao Governo Lula (só a esse) já que, segundo ela própria, a oposição partidária é muito fraca. A enxurrada de denúncias feitas todos os dias contra petistas pela quebra do sigilo fiscal da filha do candidato tucano, e outras pessoas próximas a ele, não só não abalou os índices de Dilma até agora como está fazendo Serra cair para seu nível mais baixo, aproximando-se dos 20%.

Faltando pouco mais de 20 dias para a eleição, claro que estes números ainda podem mudar e levar a disputa para o segundo turno. Porém, até o momento nada indica que isto vá acontecer, a não ser que se produza um factóide novo. O ideal, no entanto, seria que todos percebessem que política não é, e não pode ser, um jogo de vale tudo. Que se perca ou se ganhe pelas propostas e projetos políticos, deixando as “baixarias” para suas vidas privadas quem por elas tiver afeição.

sábado, 4 de setembro de 2010

Progressão continuada faz analfabetismo funcional chegar à universidade

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco), analfabeto funcional é a pessoa incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, dificultando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Apesar de saber escrever seu próprio nome, assim como ler e escrever frases simples e efetuar cálculos básicos, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar idéias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas.

Pois bem! Dia desses li uma matéria na Revista do Brasil que me deixou estarrecido. Nela o professor universitário Anselmo Büttner, com quase 40 anos de profissão e autor de livros na área de administração e marketing, traça um cenário extremamente preocupante. O professor constata consternado que os estudantes não sabem escrever. Segundo ele é simples ver isto, pois quando pede aos alunos para fazerem uma dissertação, o que vem escrito é lamentável.

Outro professor universitário, há nove anos nas salas de aula de ensino superior e executivo de uma empresa de gestão de recursos humanos, vai mais longe. O docente pede para não ser identificado naquela reportagem, mas calcula que 30% dos alunos de suas turmas na universidade podem ser classificados como analfabetos funcionais. O professor reclama que para eles (alunos) não existe mais acentuação, nem pontuação. Cerca de 30% dos alunos até lê, mas não compreende. “Eles não sabem estruturar idéias, nem se expressar", afirma o professor na matéria da revista.

A avaliação lógica da matéria é que, com esse quadro, há poucas possibilidades de se formar profissionais qualificados. Sem a capacidade de compreender e se expressar, o profissional vira só um “papagaio". Com o sistema de progressão continuada e a necessidade do governo do estado de ter estatísticas positivas sobre alunos formados, os jovens chegam à universidade com enorme deficiência de alfabetização. O problema é que a metodologia da progressão automática foi adotada sem a contrapartida em capacitação de professores e infraestrutura.

No caso do professor Büttner, a saída foi criar metodologias específicas. "Eu levo figuras e desenho no quadro o que é almoxarifado, por exemplo, para eles compreenderem", relata. "Eles não conseguem juntar as informações, não conseguem montar uma sequência, não têm base de gramática e ortografia, mas não é só. Há limitações também na capacidade de raciocínio lógico e matemático", alerta.

A que ponto nós chegamos! Uma escola que finge que ensina e um aluno que nem finge mais que aprende. É evidente o fracasso desse modelo, que já deveria ter sido revisto.