segunda-feira, 31 de maio de 2010

Acho que é miopia da alma

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Conforme matéria veiculada na Folha de São Paulo de segunda-feira, 24, dois dos maiores bancos que atuam no Brasil, Bradesco e Santanter, estão abrindo agências nas maiores favelas de São Paulo e Rio e nas periferias de Brasília. O Bradesco já inaugurou uma em Heliópolis, na capital paulista e estuda implantar outra na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. O espanhol Santander planeja abrir uma agência no Morro do Alemão, também no Rio.

É lógico! Esses bancos não estão sendo movidos por sentimentos humanitários ao levarem serviços a essas populações, que antes não tinham acesso aos produtos bancários. O que querem é ganhar dinheiro. Segundo diretores dessas instituições pesquisas feitas anteriormente dão conta de que nesse ano a classe E deverá consumir mais do que as classes C e D juntas. O foco, revelam, é oferecer crédito através do cheque especial e do cartão de crédito.

Isso demonstra de maneira cabal o que todos já percebem por intuição: a vida dos brasileiros mais pobres está melhorando e sua renda e capacidade de consumo também.

Cabe ressalvar aqui que o Banco do Brasil deveria entrar nessa parada e fazer o mesmo, inclusive com programas que atendessem a essas pessoas de uma maneira diferenciada, com taxas de juros menores, por exemplo. Evitando que elas ficassem reféns da voracidade dos bancos privados. Mesmo assim, o que é inegável é a sensível melhora nas condições de vida dessas comunidades.

Estudo feito pelo diretor técnico do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), Roberto Cavalcanti de Albuquerque, apresentado no último dia 20, no 22º Fórum Nacional, promovido pela entidade na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no Rio, revela que houve evolução no processo de inclusão social no Brasil entre 2001 e 2008.

Segundo o economista, houve uma aproximação entre as diferenças, sejam elas entre urbano e rural ou entre as regiões Norte-Nordeste e Sul-Sudeste. A educação avançou menos que outras áreas. Apesar de termos conquistado sua universalização, a qualidade ainda é um problema a ser enfrentado. O emprego, apesar das 12 milhões de novas vagas geradas, ainda tem muito espaço para crescer. O ponto alto, segundo Cavalcanti, foi o salto significativo em termos de inclusão digital, que deve continuar melhorando ainda mais.

Apesar de tudo isso, tem algumas pessoas que insistem em não ver as coisas como elas são. Dia desses vi um adesivo colado em um carro que dizia assim “vote Dilma e acabe com esse país Dilma vez”. Pode? Que cada um tenha suas preferências é compreensível e as opiniões divergentes devem ser respeitadas, mas miopia assim é demais. Qual país está se acabando? De que país será que essas pessoas estão falando? Será que elas moram no Brasil?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

As figurinhas da copa e a crise política em Bebedouro

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Nos últimos dias dois assuntos têm dominado as conversas em meus círculos de amizade. Um deles é o álbum de figurinhas da Copa. Todo fim de tarde e nos finais de semana pela manhã meus filhos me pedem para levá-los até a Praça do Jardim Paraíso para comprar e trocar os cromos repetidos. Lá encontro vários conhecidos e amigos colecionadores. Confesso que também gosto da brincadeira. Em alguns momentos parece que volto ao tempo em que era criança, trocando figurinhas e jogando bafo. Só que agora não jogamos bafo, só trocamos as figurinhas, pois o que importa é completar o álbum, e as fotos dos jogadores não podem estar amassadas e sujas.

_Você tem o Puyol? Só falta ele para eu completar a Seleção Espanhola! Pergunto a um deles. _E o Júlio César, alguém tem? Com ele eu completo a Seleção Brasileira! Pergunto no geral. _Por falar na Seleção Canarinho, que pena que o Dunga não convocou o Ganso e o Neimar, né! Atropela-me outro com o pacotinho na mão.

_Tio, você tem novas figurinhas para trocar? Pergunta-me meu sobrinho por telefone. Como a resposta é positiva, ele me intima feliz: _ Guarde-as para eu ver, heim? Vou pedir para meu pai me levar até a sua casa! E assim a vida flui... E o álbum já está quase completo.

O outro tema que tem sido recorrente em todos os locais que freqüento é o processo investigativo que sofre nossa Prefeitura Municipal relativamente às denúncias de fraudes nas licitações. Esse, ao contrário do primeiro, é um assunto que muito me aborrece! Infelizmente, ele também nos remete a outros tempos passados, nos quais acusações do mesmo tipo eram feitas pelo Ministério Público contra outras administrações locais. Parece até que isso está se tornando comum por aqui. E em diversas outras cidades também, é verdade!

_Você viu? O sobrinho do prefeito está envolvido no esquema! Espanta-se um. _Os diretores do Departamento de Educação e do SAAEB, também! Diz outro. _Será que vai dar cassação? Interroga um terceiro.

Ao contrário do álbum de figurinhas da Copa esse é um assunto que eu tenho preferido não comentar. Teve um dia que um cidadão me parou na rua e me perguntou o que é que eu iria fazer diante dessa crise toda. _Eu?!? Respondi perguntando e acrescentei: _Nada! A não ser esperar o resultado das investigações!

Na verdade, não me sinto a vontade para falar desse assunto, pois fui candidato a prefeito na eleição passada e fui um dos derrotados por Italiano. Pode parecer despeito ou oportunismo de minha parte. Então, prefiro não opinar.
Quanto às figurinhas da Copa, desejo ver meu (e das crianças, é claro!) álbum completado e o Brasil hexacampeão mundial. Quanto à crise política que se instalou em Bebedouro, desejo que os fatos sejam apurados e os culpados punidos, de tal forma que sirva de exemplo, para que nunca mais se repita. Nossa cidade não merece mais isso. Oxalá, doravante tenhamos em Bebedouro mandatários comprometidos em mudar essa prática tão perniciosa à política e à administração pública

domingo, 16 de maio de 2010

Independência do Banco Central divide opiniões, eu tenho a minha

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Ponto polêmico, em nossos dias, em diversos segmentos da sociedade, quando se trata da regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que aguarda uma redação final para definir as regras de atuação do Sistema Financeiro Nacional, é a questão da independência ou não do BC. Manter o Banco Central do Brasil sob o comando do governo federal ou dar independência total à instituição, tem dividido opiniões.

Nada melhor para tirar as dúvidas e buscar consensos que o aprofundamento do debate sobre o tema. Foi isso que fez o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos dias 29 e 30 de abril, em São Paulo, quando da realização do seminário: Regulamentação do Artigo 192: Desenvolvimento e Cidadania.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, destacou durante o evento que a instituição tem hoje bastante autonomia para definir suas ações. Para ele o país já avançou muito nessa questão e o governo Lula tem dado muita liberdade para a atuação do BC, o que, segundo ele, estaria proporcionando uma boa funcionalidade à instituição.

A mesma linha de raciocínio foi seguida pelo diretor de Liquidações e Controle do Crédito Rural do BC, Antônio Gustavo Matos, que disse que o presidente Lula nunca interferiu na política da instituição e garantiu que a entidade tem hoje uma autonomia operacional que é um exemplo de funcionamento para outros países do mundo.

Desde o início dos debates sobre a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, há mais de uma década, nós do Sindicato dos Bancários temos nos posicionado contra a independência do Banco Central. O movimento sindical bancário cutista é a favor da autonomia operacional do BC, como é hoje, mas acredita que o total descasamento da instituição com o governo federal pode trazer grandes prejuízos ao Brasil, paralisando, inclusive, o andamento do país.

Na prática, por trás desse debate está um outro confronto de concepção: qual deve ser o papel do estado? A recente crise sistêmica americana e a forma como a enfrentou o governo Lula, demonstra que a tese do estado mínimo, da auto-regulamentação do mercado, está falida. Mesmo assim, alguns, que não querem a distribuição da riqueza e da renda nacionais, não se dão por vencidos e escamoteiam o debate. Aqui não, violão!

domingo, 2 de maio de 2010

O movimento sindical é Dilma

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Sou dirigente sindical bancário desde 1987, quando tinha apenas 24 anos de idade. Desde aquela época aprendi que quando assumimos essa função na sociedade, estamos, na prática, assumindo um lado, o lado dos trabalhadores. Nosso compromisso passa a ser com os interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. E por trabalhadores não devemos entender apenas aqueles assalariados com carteira assinada, mas também os desempregados, os informais, os aposentados, os micros e pequenos empresários do campo e da cidade, enfim, os da base da pirâmide social.

Defendemos nossos interesses imediatos quando discutimos e reivindicamos, por exemplo, numa campanha salarial, um reajuste com aumento real de salário, melhoria na participação nos lucros e resultados (PLR), aumento no auxílio alimentação e refeição, etc.. Quanto aos interesses históricos, lutamos por eles quando trabalhamos pela emancipação política da classe trabalhadora e pela construção, no longo prazo, de uma sociedade melhor, com mais e melhor distribuição de renda e com mais justiça social.

Para desempenharmos bem essa tarefa é necessário que avancemos para além dos limites dos sindicatos por categorias, passemos pela organização da central sindical e atinjamos a luta política institucional partidária. Pois a construção de uma sociedade melhor se dá também com a disputa de projetos políticos implantados pelos diferentes governos e parlamentos.

No próximo período, com maior intensidade depois da Copa do Mundo de Futebol, estaremos vivenciando mais uma vez uma disputa eleitoral em nosso país. De um lado temos um projeto iniciado pelo presidente Lula, de crescimento econômico, fortalecimento de segmentos econômicos estratégicos no âmbito do setor público, e de outro, um projeto antigo entreguista e de submissão política internacional, que quebrou o Brasil três vezes durante o governo FHC.

Diante desse quadro o movimento sindical teria que assumir a sua responsabilidade e assim o fez quando tomou a decisão acertada em apoiar a candidatura da ministra Dilma para presidenta do Brasil nas próximas eleições de outubro. Dar continuidade ao projeto que melhorou a vida dos trabalhadores e da sociedade em geral é tarefa de todo o movimento sindical responsável e, de fato, comprometido com os interesses dos “de baixo”, no linguajar de Paulo Freire.

A disputa não será fácil, pois a poderosa e arcaica elite brasileira e sua mídia golpista jogam muito pesado. Porém o povo não é bobo e saberá defender-se, escolhendo o que é melhor para si mesmo.