domingo, 14 de novembro de 2010

É preciso descer do palanque e pensar no Brasil

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

O dia 31 de outubro encerrou o processo eleitoral e o ideal seria que o acirramento, até certo ponto natural, da disputa presidencial também ali tivesse fim. Infelizmente não foi assim. Um sentimento de ódio, que macula o coração e turva os olhos, tem se expressado como na atitude da jovem estudante de direito, cujo nome nem é bom ficar repetindo, como disse um sensato blogueiro, para não fazer a garota destrambelhada de bode expiatório. Ela escreveu assim na Internet: “nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, por causa da grande votação que Dilma Rousseff recebeu naquela região.

Todos os dias temos ouvido e lido nas mídias nacional e local manifestações carregadas desse e de outros sentimentos nada virtuosos. É verdade que ele vem de uma parcela pequena da população, vem de militantes ligados diretamente aos partidos derrotados e/ou de pessoas bastante ideologizadas nas concepções de direita. Mesmo assim, o esperado, para o bem do país, é o amainar dos ânimos.

Dos textos publicados na mídia local, sobressai um, carregado de rancor, cujo autor também não citarei por não estar no espaço apropriado, que chega ao cúmulo de falar em impeachment antes mesmo que Dilma tome posse no dia 1° de janeiro de 2011.

Deixar a disputa de lado e pensar no país é fundamental para todos nós. O Brasil deverá crescer esse ano algo em torno de 7,5%. Um índice extraordinário para um ano em que vários países ainda sofrem os efeitos da crise sistêmica originada nos Estados Unidos. Isso é um reforço inapelável à tese de que é possível crescer e ao mesmo tempo distribuir renda.

Baixar a guarda nesse momento, não significa abrir não de concepções, nem capitular. Uma oposição consistente e crítica é salutar para qualquer governo, mas é hora de pensar em continuar avançando nas conquistas sócio-econômicas, tratar de uma legislação que garanta que os recursos vindos das riquezas do pré-sal sejam de todos os brasileiros e promover reformas, como a tributária e a política.

Há muito que o Brasil precisa de uma legislação tributária que desonere o setor produtivo, sobretudo a folha de pagamentos, mas que ao mesmo tempo preserve o direito dos trabalhadores. Parece-me fundamental que os impostos pesem menos sobre os salários e mais sobre o lucro, como forma de incentivo à geração de mais empregos.

No campo da reforma política precisamos da fidelidade partidária irrestrita e melhorar a forma de se fazer as campanhas eleitorais. É importante aumentar a fiscalização e introduzir o financiamento público de campanha, para que todos os candidatos tenham condições mais equânimes. O país tem muito que fazer. Não podemos perder nosso tempo com picuinhas, ódios raciais e intolerância política. Numa camiseta que ganhei de minha esposa logo que casamos estava escrito assim: “somos todos responsáveis pela vida”, pensemos nisso!