quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

As listas para 2011

(Artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Tenho um amigo que em todo final de ano faz, e incentiva os outros a fazerem, listas com metas a serem alcançadas no ano novo. Emagrecer alguns quilos, caminhar, praticar exercícios físicos, trabalhar menos, passear mais, ficar mais com a família, trocar de carro, reformar a casa. Esses são os objetivos mais frequentes.

No final do ano passado programei para esse muita coisa. Não consegui realizar tudo, mas o saldo até que foi razoável. Caminhar consegui só nos primeiros meses de 2010, depois desanimei. É claro que esse item fará parte da minha lista para 2011, porque um dos meus objetivos elencados será também ser perseverante. Trabalhar menos eu consegui. Afinal, sem mandato eletivo desde 2008, apenas com a responsabilidade da representação sindical bancária, o ritmo ficou bem menos intenso. Pude passar mais finais de semana em casa com a família. Consegui fazer o que meu filho Gabriel, de cinco anos, me cobra tanto, que é jogar bola com ele nos finais de tarde. E as noites que fiquei em casa foram várias, podendo, em inúmeras delas, fazê-lo dormir. Apesar de minha esposa pedagoga garantir que já está na hora de ele ir para a cama sozinho.

Bem, não é preciso dizer que trocar de carro e reformar a casa vai ter que entrar na próxima lista também. Afinal, as finanças não estavam para isso.

Mas, para 2011 quero ser mais ousado em minhas aspirações. Quero não me irritar no trânsito quando um veículo me fechar, ou me ultrapassar pela direita, ou ainda me enfiar a buzina nos tímpanos quando eu cometer alguma gafe desse tipo. Eu quero ser mais tolerante. Principalmente com as pessoas que pensam diferente de mim. E poder ver nelas um igual, com os defeitos e virtudes que todos nós temos. Quero me perdoar mais, me tolerar mais, porque assim é mais fácil gostar mais dos outros e vice-versa. Dia desses tive uma surpresa agradabilíssima nesse sentido. Recebi um elogio tão direto e surpreendente que cheguei a me emocionar, de uma pessoa que eu pensava não me notar. Acho até que não mereci o elogio. Mas o que me emocionou foi que ele veio de uma pessoa que, apesar de eu admirá-la, imaginava não nutrir por mim muita simpatia. Nunca ouvi nada parecido de nenhum dos meus melhores amigos.

Quero ouvir mais também. Conversar mais com as pessoas, mas, sobretudo, ouvir. Há tempos provérbios nos falam sobre a importância de ouvir, porém não aprendemos. Sempre falamos mais do que ouvimos. Agindo ao contrário certamente cometeremos menos erros. Também quero aprender a calar-me. Mesmo quando o clamor é pelo verbo.

Quero ainda aprender a escrever melhor. Para que eu possa continuar merecendo a confiança dos leitores e, principalmente, desse jornal que me dá essa gostosa oportunidade de me dirigir a vocês semana sim, semana não. Feliz 2011 para todos nós. Ah! Acho interessante a ideia de fazer listas! Recomendo!

sábado, 18 de dezembro de 2010

O velório de Dona Júlia e a realidade de Bebedouro

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Sábado, às 7 horas da manhã, recebi um telefonema da filha da Dona Júlia me informando que sua mãe tinha falecido. Dona Júlia trabalhou na casa de minha mãe quando eu ainda era solteiro. Já faz tempo. Mais de vinte anos. Não sei bem porque, mas sempre tive pena daquela mulher. Tinha uma fisionomia melancólica, triste mesmo. Tinha uma vida dura, imagino. Moradora do Bom Retiro desde os tempos em que não havia asfalto. Casa sem acabamento, sem reboco, sem piso, sem forro. Pelo menos na época em que a conheci era assim. Depois melhorou um pouco.

Há alguns anos encontrei sua filha, a mesma que me ligou, no centro da cidade e ela me falou de sua mãe. Disse que ela gostava muito de mim e que me ficou muito grata pelo fato de eu tê-la ajudado a se aposentar. Sinceramente, não me lembrava e nem ainda me lembro de tê-la ajudado nesse sentido, mas de qualquer forma fiquei feliz em saber que havia se aposentado e que usufruía de alguma renda para sobreviver.

Levantei-me, pois quando atendi o telefone ainda estava na cama, afinal, era sábado e as crianças já estão gozando de férias escolares. Tomei um banho, me vesti, tomei o café da manhã e saí para dar meu último adeus àquela mulher que me causara grande compaixão. Cheguei ao velório municipal, caixão com o corpo de Dona Júlia, filha de um lado e uma menina do outro. Lá fora o filho e alguns netos. Só. Cena triste!

Cumprimentei a parenta e falamos sobre o acontecido, a doença e os últimos momentos de sua mãe no hospital municipal. Disse-me também que o funcionário do cemitério tinha dito a ela que não havia túmulo a disposição e que isso a estava preocupando. Fazer o sepultamento no Distrito de Botafogo foi uma das soluções apontadas pelo funcionário, o que não foi aceito pela família, que queria que o enterro se desse na cidade em que ela viveu e morreu. Com razão. Despedi-me e fui embora. Depois soube que a alternativa encontrada foi pedir emprestado o túmulo de um parente para servir de última morada à pobre Dona Júlia.

Bebedouro é uma cidade problemática. E isso se deve, não só às mazelas do presente, mas aos descasos do passado. A falta de planejamento estratégico, de visão de futuro dos nossos governantes, nos trouxe uma realidade amarga. Uma cidade com um alto estoque de precatórios, o que reduz drasticamente nossa capacidade de endividamento e, por conseguinte nossa condição de tomar recursos onerosos de programas governamentais como o PAC. Ostentamos o vergonhoso título de sermos a única cidade da Bacia hidrográfica do Baixo Pardo/Grande que não trata todo seu esgoto. Pagamos caro para destinarmos adequadamente o nosso lixo e corremos o risco de não termos onde enterrar os nossos mortos. Triste realidade a nossa. Quase tão triste quanto a do velório de Dona Júlia.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os movimentos sociais e a reforma política

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)
A primeira reunião da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político Brasileiro após as eleições, ocorrida no mês de novembro, em Brasília, pode contribuir bastante com o debate desse tema fundamental para o aperfeiçoamento da nossa democracia.
Tomando por base a análise da recente disputa eleitoral, especialmente no 2º turno, foram feitas algumas observações como a atuação da grande mídia explicitamente parcial, em apoio a uma candidatura e contra a outra e o aparecimento do fundamentalismo religioso por parte de setores conservadores, explorando temas como o aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Outra observação na reunião tem a ver com o financiamento das campanhas eleitorais: os gastos foram ainda maiores que nas campanhas anteriores e, novamente, os maiores financiadores foram as grandes empreiteiras e os bancos.
A urgência de uma reforma política é flagrante no Brasil. E o momento é propício, já que o presidente Lula deixa o cargo disposto a apoiá-la e o novo governo parece estar com ânimo para levar o processo adiante. Necessário se faz nesse momento o contato com a equipe de transição para pressionar por um compromisso neste sentido. Pois, cabe lembrar que uma Reforma Política séria nunca foi de interesse de qualquer governo. Principalmente por causa de sua “necessidade” de constituir maiorias, evocando a famosa governabilidade. Nesse contexto temas importantes como a fidelidade partidária, entre outros, ficam comprometidos. As tais Emendas Parlamentares favorecem as barganhas e criam um clientelismo desnecessário e pernicioso.
Fundamental é o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, para reduzir o peso do poder econômico e para reduzir as desigualdades entre as candidaturas. Na atual configuração é muito difícil que um candidato pobre, e não apoiado pelos ricos, consiga se eleger.
Questão de muita relevância também é o fortalecimento da democracia participativa. Dar caráter deliberativo às diversas conferências nacionais, precedidas pelas estaduais e municipais nos parece ser uma saída para evitar manipulações e lobbies contrários às posições assumidas democraticamente pela sociedade.
Envolver toda a sociedade civil nesse processo de discussão e pressionar por uma Reforma Política séria é tarefa de todos os homens e mulheres de bem para o próximo período. Que assim seja.