sábado, 13 de agosto de 2011

Para não dizer que não falei do lado bom

(artigo publicado originalmente no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Sempre digo, e ouço dizer, que as pessoas em geral dão mais importância para as coisas mal feitas do que para as coisas boas que acontecem no dia a dia. Nos jornais, tanto escritos quanto televisivos, a ênfase é sempre para as notícias ruins. Eu também às vezes caio nessa armadilha. Em meus textos, apesar de falar também de coisas boas, na maioria das vezes faço o contrário. Agente é assim. Mas não deveríamos ser. Para tentar, então, mudar essa lógica resolvi escrever hoje um texto positivo.

Nesta semana precisei ir por duas vezes à Receita Federal, lá no prédio do Bebedouro Shopping, ao lado do Savegnago Supermercado, e percebi algumas mudanças significativas. E para melhor! Lembrei-me que há uns dez anos escrevi um texto para um jornal da cidade “O Sucateamento do Serviço Público”. Nele eu comentava o processo de deterioração dos serviços prestados pelo Governo Federal sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso. No auge das privatizações, a alegação governamental era que a venda das empresas estatais seria importante, entre outros motivos, por que o dinheiro advindo das privatizações seria investido na melhoria dos serviços públicos. No entanto, criticava eu, a qualidade piorava bastante, ou pelo menos não melhorava em nada. No referido texto contei que precisei de uma informação da Receita, quando ela ainda funcionava na Praça Monsenhor Aristides da Silveira Leite, e recebi um atendimento péssimo. Além de ter apenas dois funcionários para atender uma fila enorme, fui abordado pelo vigilante de uma forma muito grosseira. Ao aproximar-me do balcão para pedir a informação, pelas minhas contas, sem nenhum constrangimento nem polidez o homem fardado de então, lascou: _ Fala! O restante dos meus comentários não é necessário lembrar.

Desta vez, depois de mais de dez anos, eu ali, sentado, com uma senha eletrônica na mão, aguardando minha vez de ser atendido por um funcionário qualificado depois de ter passado por um primeiro atendente, fiquei a pensar o quanto aquela repartição melhorou. O vigilante, muito educado, estava cumprindo exatamente a sua função, vigiar. Cadeiras adequadas para se sentar, ar condicionado, lugar asseado e agradável, em nada se parece com a repartição pública de outros tempos. A espera foi pouca e o atendimento foi rápido e eficaz. A junção com a fiscalização previdenciária, que funciona no mesmo lugar, parece ter dado certo. É claro que alguns problemas ficaram por resolver, principalmente em relação à equiparação salarial dos servidores e outras questões relativas às condições de trabalho. Porém, a mudança para melhor é a olhos vistos.

Na mesma linha vai o atendimento no INSS. As intermináveis filas de antanho não existem mais e é possível hoje ser atendido com hora marcada. Um benefício pode ser concedido em alguns minutos se a documentação estiver toda em ordem. As greves dos funcionários do Instituto eram constantes e faziam com que os processos atrasassem ainda mais. Hoje as coisas estão diferentes também nessa área, as greves são bem mais escassas. Logicamente, da mesma maneira que acontece na Receita Federal, os problemas funcionais e salariais ainda existem e são relevantes. Porém o esforço para solucioná-los tem sido maiores. Assim, o atendimento ao público na Previdência Social também melhorou bastante. E vejam que interessante: isso acontece exatamente num período em que saiu da pauta do governo a política de privatizações, portanto, sem nenhum dinheiro vindo da dilapidação do patrimônio do povo brasileiro.
Puxa vida, não foi tão difícil assim! Se a gente quiser procurar alguma coisa boa, não é que acabamos achando!?