domingo, 12 de fevereiro de 2012

Publicação de Orpham no Facebook

PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Paraty, Bebedouro e a preservação do patrimônio histórico

De férias, em dezembro passei uns dias em Ubatuba e, pela proximidade, dei um pulinho em Paraty-RJ. Tive uma agradável surpresa. Por mais que já tivesse ouvido falar da cidade histórica, além dos testemunhos de minha esposa que lá estivera antes de nos conhecermos, não imaginava que minha rápida visita fosse tão agradável. Passeamos (eu, minha esposa, meu filho e minha filha) de barco pelas águas mansas da baía, andamos de charrete e fizemos algumas compras. Não deu tempo de conhecer as praias. Não fez falta alguma. Nosso encantamento maior foi conhecer o Centro Histórico. Casas, casarões, igrejas, calçadas e ruas, que remontam o século XVII, completamente preservados.

O calçamento das ruas e passeios do centro histórico é feito d’umas pedras escuras e desiguais apelidado pelos moradores de antanho de “pé de moleque”. As pedras foram assentadas pelos escravos, rejuntadas por uma espécie de argamassa composta de uma mistura de areia e óleo de baleia, para dar liga. Enquanto os negros adultos transportavam e depositavam as pedras e a areia, os filhos dos escravos iam pisando-as para afixá-las melhor no chão. Daí o nome “pé de moleque” dado ao exótico calçamento.

Reparando bem, percebe-se que várias outras construções são feitas com as tais pedras, principalmente na orla. Elas vieram de Portugal e entulhavam a cidade até que alguém teve a idéia de dar-lhes alguma utilidade. Os navios, que saiam carregados de ouro e café com destino à Metrópole lusitana, para não voltarem vazios, já que precisavam do peso para navegar, eram recheados de pedras. Assim, iam lotados de ouro e café e voltavam cheios de pedras. E hoje elas fazem parte da paisagem da antiga Paraty, como quem estivesse ali para contar a história.

Outra questão interessante na charmosa cidade é sobre como se cuidava dos dejetos produzidos pelos moradores. Como não havia rede subterrânea de esgoto, os resíduos saiam das casas por um buraco na parede, rente ao chão, e iam parar no meio da rua, cujo calçamento era feito com uma inclinação para o centro. A maré, que sobe quase todas as noites, inundava até a altura do primeiro degrau das residências, toda a extensão da antiga cidade e, quando baixava levava consigo os dejetos, fazendo, então, o trabalho de higienização das estreitas ruas e calçadas.

Pude obter essas informações em apenas cinco horas de visita graças ao trabalho de preservação histórica empreendido na cidade. Fico imaginando o quanto mais de história pode-se ali apreender numa estada mais demorada. Pois bem, a viagem termina, volto a Bebedouro e me deparo com uma cena que expõe comportamentos e conceitos completamente antagônicos àqueles com os quais tanto me empolguei em Paraty. Mais dois antigos casarões são colocados no chão. Um na Avenida Raul Furquim e outro na Rua Coronel Conrado Caldeira. Obviamente, estamos falando de duas cidades bem diferentes. Não queria eu que tivéssemos aqui um centro histórico como tem Paraty, uma cidade com mais de trezentos anos. Mas bem que podíamos cuidar melhor de nossa memória. Muito triste!

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