sábado, 30 de outubro de 2010

Política e religião

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

Domingo passado, mais ou menos ao meio dia, recebi um telefonema de uma professora aposentada me dizendo que sua irmã, também professora e aposentada, a procurou indignada depois do que presenciou pela manhã numa reunião religiosa. Contava-me ela que o chefe religioso, abordando o tema eleições, dentre outras coisas, teria dito que há uma candidata que está prometendo erradicar a pobreza e a miséria no país e que isso não seria possível, pois a pobreza e a miséria estariam previstas na lei de Deus. Portanto, seria impossível acabar com esses sofrimentos das pessoas que passam por essas vicissitudes. Assim, concluiu o religioso, a candidata mente.

Discurso ruim, porém mais honesto. Até bem pouco tempo durante a campanha eleitoral o religioso dizia para não votar na candidata que defendia o aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo. A candidata assinou um termo de compromisso de não apresentar nenhum projeto de lei ao Congresso Nacional que modificasse o texto da lei já existente sobre o tema, depois que três ex-alunas de Mônica Serra, mulher do candidato, disseram que a ex-professora teria feito um abortamento no quarto mês de gestação e denunciaram sua hipocrisia. No mesmo período o candidato assumiu publicamente sua posição também favorável à união civil entre homoafetivos, por uma questão de direito.

Assim, era preciso arrumar outro argumento. Pois bem, então lá vai... a pobreza é coisa de Deus! O argumento é mais honesto, pois se trata de uma opinião política e não de baixarias e boatos, como os argumentos primeiros que caíram por terra a partir de fatos concretos. Obviamente, acho difícil alguém entrar numa dessas, mas é uma questão de opinião. Eu, particularmente, tenho outra visão sobre o assunto. Deus, que é a inteligência suprema do universo, criador do Céu e da Terra, soberanamente justo e bom, não poderia, de maneira alguma, condenar grande parte da população à pobreza e miséria eternas. O próprio Jesus nos ensinou a fazermos aos outros, aquilo que gostaríamos que nos fizessem. É lógico que não quero ser eternamente pobre e miserável, por isso, conforme nos ensina Jesus, tenho que fazer o possível para que meu irmão saia da miséria. E Jesus não nos mandaria fazer algo que não fosse possível. Difícil sim, impossível não.

Parece-me que a argumentação do religioso, dita de uma outra forma seria a seguinte: acabar com a pobreza não é possível, antão vote em Serra. É... loucura, não?

Tenho um amigo religioso que certa feita me disse assim: “tem chefes religiosos que ficam banqueteando nas faustas mesas dos ricos e se esquecem da opção pelos pobres”. Parece-me muito mais lógico e cristão que se comparasse quem fez mais pelos pobres, criou mais empregos, incluiu mais pessoas nas classes médias vindas da C e D, fez o país se desenvolver ao mesmo tempo em que distribuiu melhor a renda, etc.. Se usassem a comparação como método, certamente não escolheriam o candidato dos ricos e poderosos. Parafraseando o grande Chico Buarque de Holanda, escolheriam o projeto político que não fala fino com os Estados Unidos e nem grosso com Bolívia e Paraguai.

2 comentários:

  1. Olá, Carlos!

    E a vitória da Dilma acaba de se consolidar! Vitória pessoal de uma mulher que entra para a história do país como a "Primeira Presidente do Brasil", vitória do atual presidente, Lula, que acreditou no potencial daquela a quem iria apoiar até o fim, vitória do Partido dos Trabalhadores, vitória da democracia e, acima de tudo, vitória do povo.
    Essa felicidade, a meu ver, só não é completa, porque o governo estadual continua nas mãos do PSDB. Queira Deus que a Educação não seja penalizada (novamente) por mais quatro anos e que os professores consigam resgatar, pelo menos, uma parte da dignidade que lhes foram tirada.
    Tenha um ótimo final de domingo e um ótimo feriado!
    Abraço!

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  2. Oi, Silvana,
    Foi tambémm a vitória da verdade sobre a mentira, a dissimulação e o ódio. Foi terrível o jogo sujo, as boatarias, as calúnias, deliberadamente espalhadas contra Dilma. Acho que foram até piores das que fizeram contra o Lula. Imagino que tem um componente machista fortemente arraigado na direita demotucana.

    Obrigado pela mensagem. Um bom feriado para você também. A luta continua!

    Abraço!

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