sábado, 9 de outubro de 2010

O fenômeno Tiririca e outras coisas ruíns

(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

De segunda-feira para cá muito tem se falado sobre a votação estrondosa do palhaço Tiririca para Deputado Federal, mais de 1,3 milhão de votos. E, realmente, é uma pena que as pessoas tratem a política dessa forma, com tamanho descaso. Porém, tem um fenômeno digno de estudo acontecendo junto com esse comportamento de inconformismo das pessoas em relação à votação recorde do palhaço.

A mídia, de fato, cumpre um papel de ditar comportamentos, maneiras de pensar, até o que devemos comer ou vestir, além do celular que devemos comprar é lógico. No dia seguinte à eleição, uma moça abriu um jornal perto de mim, apontou uma foto de um candidato campeão de voto, eleito para o senado, e disse assim “acho que foi nesse que eu votei”. Ela não tinha certeza. Mas eu vi a foto. Era um candidato apoiado, blindado e maquiado pela grande mídia, que muita gente, como aquela moça, não sabe quem é, mas votou.

Tão ruim quanto votar em Tiririca é votar em quem não se conhece, em quem não se sabe daquilo que ele tenha feito de bom ou de ruim para a sociedade. Que posto ou cargo eletivo tenha ocupado ou qual projeto ou realização tenha efetivado. Mas a grande mídia cobra a votação do palhaço, do outro não. Claro, joga no seu time!

Tão ruim quanto votar em Tiririca é votar em tantos outros políticos que só pensam em si e nos seus. Mas como sabê-lo, se a grande mídia brada aos quatro cantos que eles são altruístas, homens de bem? Nenhum comentário sobre o escândalo da Alston, superfaturamento das obras do metrô, relações familiares com Daslu e Verônica Dantas, por exemplo. É mais conveniente falar da tal Erenice. Isso dá segundo turno.

Tão ruim quanto votar em Tiririca é votar em quem tem desprezo pela educação. Aliás, no domingo á noite ouvia um programa na TV onde uma cientista política dizia que se a gente elege quem trata a educação com descaso estamos dando as condições de no futuro termos mais fenômenos Tiririca. Assim, questionava ela, “será que não temos uma parcela de culpa nisso”?

Tão ruim quanto votar em Tiririca é votar em quem faz o jogo rasteiro ao invés de debater projetos, apela para factóides e se faz de vítima. Quando eu começava a escrever esse texto recebi um telefonema de uma mulher. Ela estava abalada com o que tinha ouvido de alguns fiéis de certa igreja. O chefe religioso estava dizendo para seus seguidores que Dilma era “sapatão” e a favor do aborto e que era mentira dela e do Lula que a dívida com o FMI havia sido paga. Dá pra imaginar os donos da grande mídia e seus amigos, políticos de bem, esfregando as mãozinhas ao verem que suas artimanhas planejadas com todo o cuidado dão os resultados ansiosamente esperados.

Dá nojo! O Tiririca, esse, pelo menos me diverte!

2 comentários:

  1. Olá, Carlos!

    Mais uma vez, parabéns pelo belíssimo artigo, o qual me fez lembrar de um vídeo que assisti há poucos dias, do Filósofo, Educador etc. Mario Sergio Cortella, no qual ele traça um paraleo entre "político" e "idiota". Segundo ele, na Grécia antiga, "político" era o cidadão que lutava pelo bem da pólis (Cidade-Estado), era o homem público; hábil na administração de negócios públicos; popular; capaz de viver em sociedade'. E, em contrapartida, o "idiota", do latim "idióta,ae diôtés" era o indivíduo particular, homem privado (em oposição a homem do Estado), aquele que só pensava em si mesmo, sem se preocupar com os interesses da pólis (da comunidade. Dessa forma, acredito que as pessoas devessem se envolver um pouco mais com a política, e "se envolver", significa colocar os interesses do país e da comunidade em um lugar de destaque, caso contrário, continuaremos pagando um alto preço pelo descaso com que a política é tratada. É inevitável tocar em dos principais temas que rege todo esse caos: Educação! Infelizmente ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido e não dá para desvincular o resultado das eleições do referido tema (isso ficou bem claro em seu artigo).

    Mais uma vez, parabéns pelo brilhante artigo!

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  2. Obrigado, Silvana.
    Meu texto, na verdade, foi um grande desabafo pós eleição. Mas, a vida e a luta continuam. Vamos em frente!

    Mudando de assunto, você recebeu o jornal Brasil Atual Bebedouro? O que achou? A segunda edição já foi distribuida e trata da educação. Já está também nas bancas com distribuição gratuita.

    Um abraço,
    Orpham

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