sábado, 14 de maio de 2011

13 de maio: comemorar o que?

(artigo publicado originalmente no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)

O dia 13 de maio não é o melhor dia para se debater a questão do povo negro no Brasil, já que nesse dia se deu mais uma farsa produzida pela elite branca, a tal da abolição da escravatura prescrita pela Lei Áurea assinada pela Princesa Izabel. Junto com o movimento negro penso ser mais apropriado o dia 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares e dia da Consciência Negra. Contudo, é bom não perder a oportunidade de falarmos de tema tão palpitante e necessário.

Num país onde a escravidão do povo negro durou três séculos e foi o último no mundo ocidental a aboli-la, os problemas enfrentados por essa população não foram e não são pequenos. Do seqüestro violento nas terras do continente africano ao acorrentamento nas senzalas, passando pelo transporte degradante, a violência só não foi maior que a sede de liberdade que se deu por obra deles próprios, não da princesinha loura de olhos azuis. Liberdade parcial, pois como diz o famoso samba enredo da folia de Momo do Rio de Janeiro “... livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela...”.

O preconceito e a discriminação, muitas vezes negados por quem não quer ver a realidade, sempre estiveram presentes no dia a dia do afrodescendente em nossa sociedade. Para não citar exemplos mais próximos, na semana passada a Escola de Samba Vai-Vai, campeã do carnaval da capital paulista, se apresentou no Clube Atlético Paulistano juntamente com o seu homenageado desse ano, o Maestro João Carlos Martins. Obviamente, o fato gerou muitos comentários sobre o racismo, pois o Paulistano foi o mesmo que decidiu encerrar seu departamento de futebol no final da década de 1920 por não concordar com a presença de negros em seu time. A elite branca do clube preferiu encerrar uma bem sucedida carreira do time 11 vezes campeão paulista a aceitar a presença de negros. Só em 2005 o clube aceitou o primeiro sócio negro, Mauro Silva, campeão mundial de futebol em 1994 com a seleção brasileira. Há alguns anos atrás o Clube chegou a proibir que babás negras usassem sapato aberto em suas dependências. O fato de a Vai-Vai se apresentar ali pode ser que represente certo avanço, porém está longe de redimir sua história racista. Esse é apenas um exemplo da infinita gama de discriminações que pululam diariamente em todos os ambientes e setores da nossa organização social.

Como dirigente sindical bancário pergunto a mim mesmo e aos cartolas, evidentemente brancos, do sistema financeiro: _ por que não há negros e negras trabalhando nas agências bancárias? Essa é uma pergunta que está sem resposta há anos. Nossa proposta é que se contrate esses trabalhadores e trabalhadoras na mesma proporção de sua presença na população nas diversas regiões brasileiras. Outras representações também fazem essa reivindicação inclusiva em suas categorias profissionais e/ou ramos de atividade, mas o debate patina.

Uma sociedade só será realmente livre e desenvolvida, além de distribuir equitativamente a renda, se combater o preconceito e respeitar as diferenças. Esses são exercícios que precisamos praticar a todo instante até que o sentimento fraterno impregne nossos corações e mentes.

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