(artigo publicado originalmente no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)
É verdade que a motivação não é tão nobre assim. Ridicularizar os políticos de uma forma geral sempre foi uma maneira de se criar uma nuvem de fumaça sobre o que realmente acontece, para se tirar dividendos políticos, dependendo da conjuntura, de quem está no poder, se é do lado de quem ridiculariza ou não. É preciso, antes, portanto, fazer essa ressalva, pois nem todas as cores e tons são de fato aqueles veiculados pela mídia. Que tem lado!
Feita a importante observação, vamos ao ponto. Os políticos realmente depõem contra si mesmos! Os recentes fatos que vieram a público sobre uso de passagens aéreas por parentes e amigos de deputados e senadores e o uso da verba para abastecer jatinhos particulares, dentre outros, são de amargar.
Um aspecto positivo desse meu distanciamento da política institucional, agora que estou sem mandato, é que assim, à distância, se pode ter uma visão melhor do que acontece no mundo da política e dos mandatos. Parlamentares e executivos.
O corporativismo no parlamento é muito forte. Ao ponto de se perpetuar uma prática nefasta como esta, sem nenhum questionamento. Nem constrangimento, pior! Alguns, tidos como entre os melhores homens públicos do país, entraram nessa.
Quando fui presidente da Câmara Municipal, em 2003 e 2004, recebi um convite para viajar a Portugal. Não me lembro exatamente o nome da cidade. Sei que veio num envelope muito elegante, acompanhado de um folder igualmente bonito e muito bem elaborado, com fotos da cidade e da região, dos castelos, das quintas e suas videiras, dos restaurantes e tudo mais. Nele, o prefeito dizia que teria muita honra em nos receber, como estaria fazendo com vários outros convidados, e que ao final do Evento que participaríamos, seríamos contemplados com um diploma e até, se não me falha a memória, com uma comenda. Dizia, ainda, no folder, que as relações entre as nossas cidades, a nossa e a de Portugal, se estreitariam e dali poderiam surgir grandes oportunidades.
Não viajei! Nem eu, nem nenhum outro vereador que atuava comigo na época. Tempos depois fiquei sabendo que várias cidades européias, não só de Portugal, fazem isso. Convidam políticos para eventos, como congressos e convenções, em suas cidades visando dinamizar o turismo local.
Não é de hoje, isso é coisa antiga, que no meio político, parlamentares e executivos se sentem acima do cidadão comum. Até hoje são chamados de “nobres”, “nobre vereador”, “nobre deputado”, fruto de um período em que só participava da política os de fato nobres. O povo era alijado do processo político. Hoje, o direito de votar e ser votado está universalizado, porém resquícios desse sentimento de superioridade continuam.
Isso precisa mudar, para o bem da própria política e da democracia. O limite entre o interesse público e o privado deve ser respeitado. Turismo, só com dinheiro do próprio bolso!
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