(artigo originalmente publicado no Jornal Impacto - autor: Carlos Orpham)
Eu ainda não tinha completado sete anos de idade, mas lembro-me como se fosse hoje daquela final da Copa do Mundo de 1970 contra a Itália. Ainda criança, eu morava com meus pais e minhas irmãs numa casa bem no cruzamento das duas vielas da antiga Vila Comerciária, hoje Monte Castelo. A seleção brasileira entrou em campo com Felix no gol; Carlos Alberto, Brito, Piaza e Everaldo na defesa; Clodoaldo, Gerson e Pelé no meio campo e Rivelino, Jairzinho e Tostão no ataque. Ganhamos de 4 a 1. O Brasil se tornou tri e trouxe definitivamente a Jules Rimet para casa.
Estávamos no auge da ditadura militar e eu sequer sabia o que era isso. Depois, quando cresci um pouquinho mais, aprendi que a tal ditadura se utilizou da conquista da copa e do próprio evento para anestesiar o povo brasileiro contra suas perversidades: exílios, torturas e mortes nos porões do DOPS.
Nessa época eu passei a me perguntar: como pode um evento tão bonito e contagiante ser utilizado de uma maneira tão sórdida? E a resposta estava na própria pergunta, exatamente por que era um evento bonito e contagiante, que mexia com a auto-estima do povo é que o regime autoritário o explorava a seu favor. Nós, seres humanos, nos sentimos bem quando temos nossa auto-estima elevada.
Agora, em 2010, em tempos de jabulanes, vuvuzelas e brigas políticas entre Dunga e a Rede Globo, que queria continuar tendo exclusividade nas entrevistas e notícias da seleção, vivemos um clima diferente. A euforia com o evento em si e com a perspectiva do hexa não é tão grande. Apesar de todos, inclusive eu, estarmos torcendo bastante para a seleção canarinho (não sei se passamos pela Holanda, pois escrevi esse texto antes do jogo), a euforia e a sensação de auto-estima elevada vem de outros ares. O nosso Brasil hoje vive um momento privilegiado, com a perspectiva de nos tornarmos a quinta maior economia do mundo na próxima década.
As boas notícias vêm de Brasília. “O Brasil é o país latino-americano que mais crescerá neste ano”, foi o que afirmou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), terça-feira passada (29/06). Segundo a secretária executiva da entidade, Alicia Bárcena, o Brasil terá crescimento acima de 5,5%, talvez até 6%, seguido pelo Uruguai, Peru, Chile e Panamá, que continuam sendo economias bastante fortes. O próprio governo brasileiro prevê crescimento entre 6% e 6,5%.
Em dezembro do ano passado a Cepal estimou que o crescimento médio da economia regional sul-americana chegaria a 4,1% em 2010. Agora a estimativa é de 4,5% e se baseia, especialmente, na alta do preço das matérias primas nos mercados internacionais, que favorece as exportações, sobretudo, dos países da América do Sul.
Outra boa notícia vem do Banco Central, cuja projeção para a taxa média de desemprego neste ano é de 7%. Se confirmada a estimativa, será o menor nível da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2002. Segundo o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado dia 30/06 pelo BC “a evolução dos indicadores do mercado de trabalho segue compatível com o dinamismo da atividade econômica, registrando-se recuo na taxa de desemprego e melhora qualitativa na geração de postos de trabalho, expressa pela substituição de empregos informais por postos com carteira assinada”.
Em 2014 teremos outro Mundial, desta vez no Brasil. O país tem tudo para fazer uma bela Copa do Mundo, num ambiente sócio-econômico ainda melhor, com mais pessoas incluídas, melhor distribuição de renda e mais felicidade. Depende de nós.
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