Desde que foi fundado, há mais de 50 anos, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos - DIEESE, tinha como meta, entre outras, a criação da Escola do Trabalhador. Vejam que é “do”, não “para o”, trabalhador. Agora, meio século depois, isso pode se tornar realidade. O DIEESE já está com a Escola do Trabalhador aprovada pelo MEC e deve começar a funcionar no mês de março de 2010. Trata-se de uma escola de ensino superior que trabalhará com estudos e pesquisas dentro da Ciência do Trabalho. Algo novo no Brasil, mas que na Europa já há algumas experiências com bons resultados.
Não se trata de formar profissionais, mas sim de enriquecer os profissionais das mais diversas áreas com conhecimentos relacionados ao mundo do trabalho. Obviamente, de um ponto de vista dos trabalhadores, já que do ponto de vista do capital já existem tantas outras. A Escola funcionará na Rua Aurora n° 955, em São Paulo.
Parece pouca coisa, mas não é. As instituições em nossa sociedade, voluntária ou involuntariamente, reproduzem uma visão maniqueísta de mundo, onde os trabalhadores têm uma participação muito pequena. Mesmo as universidades públicas, apesar de cumprirem hoje um papel importante e estarem um pouco mais democratizadas em comparação com o seu início, foram criadas a partir de uma necessidade das elites abastadas de estudarem seus filhos de uma maneira mais qualificada. Portanto, uma faculdade do trabalhador, criada a partir de uma organização sua, o DIEESE, mesmo que seja apenas uma (por enquanto, espero), impõe uma nova correlação nesse cenário.
Para se construir um novo mundo é preciso fortalecer e aprofundar a nossa democracia, que passa por mecanismos que proporcionem igualdade de oportunidades para todos. Assim, a diferença fica apenas na capacidade individual, não na oportunidade só dada a alguns. Nesse sentido, a Escola do Trabalhador é um grande avanço, mesmo que ainda seja de pouca abrangência. A idéia é abrir, num primeiro momento, cerca de 80 vagas, em duas turmas.
Muito ainda temos por fazer no sentido de vigorar a democracia brasileira, porém alguns passos nessa direção estão sendo dados. A concretização desse projeto da Escola do Trabalhador é um deles. E ele vem depois de 50 anos de espera, demonstrando que os avanços, apesar de importantes, são lentos. Por isso nos preocupam bastante os recentes acontecimentos em Honduras, onde um golpe de estado foi aplicado sobre um governo democraticamente eleito pelo povo. Tomara que as coisas se resolvam, lá, da melhor maneira e nós continuemos, aqui, dando passos importantes rumo à construção de uma verdadeira democracia.
e-mail: carlos.orpham@yahoo.com.br
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